E o guarda teve medo da barata...
- Flávio Adriano
- 2 de ago. de 2018
- 2 min de leitura

Eu tinha apenas três anos de casado quando, em 2001, juntei uns trocados e comprei um carro Escort Guia 1991. Apesar de já ter dez anos de uso, o Escortão era meu xodó. E a turma de Esportes da Folha de Pernambuco também adorava aquele carro. Também pudera. Até teto solar o danado tinha. Quando essa mesma galera marcava para tomar uma geladinha após a edição do jornal, a disputa era grande para ir comigo naquele carango rochedo.
Mas por já ser velhinho, acabei descobrindo um dia que ali também morava uma barata grande e cascuda. De vez em quando a bicha aparecia. No início fiquei assustado, mas com o passar do tempo, confesso que passei a ter uma simpatia por ela. Tanto é que até a apelidei de Kafka, em homenagem ao autor do livro A Metamorfose, Franz Kafka.
Pois bem, certa vez voltando de uma noite pesada de pescoção (fechamento na sexta-feira das edições do sábado e do domingo), fui parado numa blitz na Avenida Abdias de Carvalho.
- Boa noite, cidadão! Habilitação e documento do carro, por favor – falou, educadamente, o guarda.
- Boa noite, seu guarda! Vou pegar... – respondi, mas acabei surpreendido com Kafka em cima da marcha.
Então comecei a tentar a espantá-la, sem sucesso. Ao ver os meus gestos, o guarda perguntou:
- O que houve?
- Estou tentando espantar Kafka da marcha.
- Quem é Kafka? – perguntou, curioso.
- Essa barata daqui ó...
Na mesma hora a autoridade de trânsito entrou em desespero:
- Não precisa dos documentos não! Pode ir embora!
Com medo de barata, o guarda nos liberou. Fomos gargalhando até em casa, eu e Kafka. Pense na intimidade... A pena que deu é que, uns dois anos depois, um ladrão levou o meu carro e nunca mais o reencontrei. E nem Kafka...
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